Risco Brasil: precauções e oportunidades
Outubro foi mais um mês para nos lembrar de como é desafiador investir no Brasil. Ainda que pese a ausência de dados científicos para afirmarmos com convicção, há uma sensação de que os eternos problemas locais nunca permitem o brasileiro surfar o bom humor dos mercados globais. Ao mesmo tempo, sempre que surge algum desafio internacional, nossos ativos sofrem um pouco mais do que a média global.
Para recapitular, após vários meses com bons retornos nos índices acionários globais, em setembro tivemos um pequeno contratempo nos mercados mundiais, movimento que foi bem representado pelo índice MSCI World que desvalorizou 4,13% naquele mês - o Ibovespa teve queda de 6,57%. No entanto, com os agentes globais gostando dos resultados corporativos divulgados até então e com uma boa comunicação por parte dos bancos centrais em todo o mundo, assistimos novamente os índices das bolsas americanas fecharem outubro em recorde histórico: Dow Jones subiu 5,8%, S&P500 6,9% e Nasdaq 7,3%. Boa notícia para os mercados globais, mas não para o investidor brasileiro. Por aqui outubro trouxe mais uma queda relevante no Ibovespa (6,74%) e nos índices da Anbima que representam o retorno a mercado dos títulos públicos de longo prazo, IMA-B e IRF-M, com quedas de aproximadamente 2,5%.
Todo esse pessimismo se intensificou após o governo apresentar o programa social Auxílio Brasil, uma ampliação do já conhecido Bolsa Família, de tal forma que compromete o teto de gastos aprovado durante o governo Temer. Vale lembrar que ter algum dispositivo legal que limite os gastos públicos tem sido uma prática adotada também em outros países para que as finanças públicas não dependam do julgamento responsável de quem ocupar momentaneamente o poder executivo.
Ainda sobre o teto de gastos, é interessante notar como o mercado pode julgar o mesmo fato de forma totalmente diferente a depender da credibilidade que um país possua… Lá nos Estados Unidos executivos das maiores instituições financeiras atualmente pedem o fim do teto de gastos pois perceberam que a aprovação entre os congressistas sobre novos limites de endividamento trazem apenas preocupações aos mercados, não mais segurança institucional. Não ouvimos nenhuma grande crítica a essa sugestão, mas por aqui dificilmente assistiremos a defesas como essa por parte dos agentes de mercado, exatamente pela falta de consistência na política econômica brasileira que não inspira confiança e credibilidade. Essa mesma desconfiança na estabilidade econômica nacional faz com que tenhamos boa parte de nossa dívida ainda indexada à taxa de juros de curto prazo, que é frequentemente utilizada como ferramenta para controlar qualquer ameaça inflacionária…
Com a inflação surpreendendo negativamente nos últimos meses, o Comitê de Política Monetária não tem tido outra saída exceto elevar a taxa Selic para níveis da década anterior, ou seja, se nos últimos semestres o Brasil conseguiu aproveitar de um custo com o serviço da dívida mais civilizado, teremos nos próximos meses boa parte do recurso público sendo drenado para custear juros da dívida pública, ameaçando a sustentabilidade da mesma e mostrando porque toda a preocupação sobre o descontrole fiscal é válida.
Sendo assim, com grandes discussões sobre inflação e credibilidade fiscal, optamos por reduzir a zero a nossa exposição em ativos pré-fixados, que já era baixa (5% do portfólio). Acreditamos que a assimetria não é interessante, ou seja, vemos mais riscos do que oportunidades ao investirmos nessa classe. Ao mesmo tempo, reforçamos a importância da alocação em ativos internacionais e, no âmbito corporativo doméstico, temos visto um cenário resiliente e promissor, com o mercado de capitais e instituições financeiras preparados para suportar o crescimento das companhias, o que nos deixa continuamente otimistas com o cenário de crédito privado, tanto indexado à inflação quanto ao juro interbancário.
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